As Aventuras de Tintim

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Ao escrever essa resenha, estou voltando de férias, as primeiras férias reais que tiro em oito anos, desde o início do DELFOS. As Aventuras de Tintim seria não apenas a minha primeira cabine de 2012, mas o início dos trabalhos do ano para mim. Desnecessário dizer que eu estive em posição fetal do início do filme ao final da criação desta resenha.

Um atraso de mais de 45 minutos, infelizmente, denunciam que o ano vai ser sofrido, desde que você acredite naquelas baboseiras de que se começar ruim vai ficar ruim até o fim. Até a realização da própria cabine estava em cheque e, embora estivesse marcada para ser realizada em Imax, existia ainda a possibilidade de exibirem o filme em outra sala.

Isso, claro, não interfere na nota do filme, uma produção pela qual delfonautas e delfianos estavam bastante ansiosos. Admito, conheço bem pouco da obra original de Hergé, então fui ao cinema despido de preconceitos, sejam eles positivos ou negativos. Esperava uma obra divertida, com cenas emocionantes e boas piadas. E foi exatamente isso o que vi.

Tintin é um jornalista que parece ter uns 12 anos, ou seja, um pouquinho mais velho que a Joanna, que só tem oito anos e 10 meses. Ele se apaixona pela miniatura de um navio ao passar por um camelô e, logo após comprá-la, é avisado por outro sujeito de que tendo aquele navio está arriscando a própria vida. Teimoso como só os belgas conseguem ser, o pirralho resolve continuar com o navio e, obviamente, o perigo e o mistério o encontram. Agora cabe a ele e a seu futuro melhor amigo, o Capitão Haddock, desvendarem O Segredo do Licorne (e o primeiro a explicar nos comentários por que diabos “Unicorn” virou “Licorne” em português ganha minha eterna admiração).

As Aventuras de Tintim usa aquela mesma técnica assustadora de animação absurdamente realista que tem impedido o Robert Zemeckis de fazer coisas legais.

Aqui, porém, ela fica ainda mais assustadora, pois o design dos personagens manteve o visual cartunesco igualzinho ao gibi original, mas acrescentou detalhes ultrarrealistas. Refiro-me àqueles defeitinhos que todo mundo tem, como pelos de barba por fazer, pintinhas ou buraquinhos na pele. Isso deixa personagens como a dupla Dupont e Dupond tão assustadores quanto fofos, e provavelmente os dois vão habitar meus pesadelos nos próximos dias.

Apesar disso, delfonauta, não entenda que este é um filme feio. Muito pelo contrário. O visual é lindíssimo e alguns dos personagens que não existiam no gibi (pois os que existiam têm um visual totalmente cartunesco) parecem até pessoas de verdade. Além disso, a direção é excelente. Preste atenção, por exemplo, em algumas transições de cenas. Tem várias que são criativas e muito legais.

Particularmente, acho que um dos grandes charmes de uma animação é justamente o visual cartunesco. Assim, não gosto dessa tendência dos desenhos ultrarrealistas de hoje em dia. Se querem realismo, façam um filme live-action. E As Aventuras de Tintim é quase isso, ficando no limbo entre o live-action e um desenho animado, assim como os últimos filmes de Zemeckis.

Lembra quando eu falei que esperava uma obra divertida e foi exatamente o que vi? Pois é. Temos aqui um saboroso Sessão da Tarde, bem semelhante ao que o Spielberg fazia nos anos 80, e é exatamente isso que ele deveria ser.

A história é o que se espera dela, e várias piadas me fizeram gargalhar alto. Também tem bastante ação, e é uma ação estilosa e divertida. Infelizmente, falta algo. Talvez por ser um filme totalmente infantil, ao ser visto pelos olhos de um adulto, fica meio chatinho, o que não costuma acontecer com as obras da Pixar, por exemplo.

O fato é que eu fiquei em várias cenas olhando para o relógio e pensando em quanto ainda faltava de filme e isso é a pior coisa que pode acontecer em uma obra que visa o entretenimento puro, como é o caso aqui. Estava me divertindo, claro, mas de forma assaz moderada. Eu simplesmente não consegui me importar com O Segredo do Licorne ou com o destino final dos personagens. O fato de o filme não ter final não ajuda, ainda que isso já fosse totalmente esperado, uma vez que desde o início da produção se sabia que a primeira parte seria dirigida por Spielberg e a segunda por Peter Jackson.

Falando do roteiro, um plot point bem grande do início do filme, o do ladrão de carteiras, some totalmente da história na segunda metade, e isso não se faz.

Eu diria que As Aventuras de Tintim vai agradar bastante às crianças e aos fãs da obra de Hergé. Aqueles que só querem assistir a uma aventura divertida vão até se divertir, mas com certeza tem obras mais marcantes no gênero. E boa parte delas foi até dirigida pelo próprio Spielberg. =]

CURIOSIDADES:

– Ao lançar o primeiro filme do Indiana Jones, Os Caçadores da Arca Perdida, começaram a compará-lo com Tintim. Spielberg foi atrás dos quadrinhos de Hergé e, desde então, virou fã do cara.

– Ao assistir a Os Caçadores da Arca Perdida, Hergé gostou tanto que começou a falar para quem quisesse ouvir que, se alguém poderia fazer um filme de Tintim, esse alguém seria o próprio Estevão Montanha Brincalhona.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
as-aventuras-de-tintimPaís: EUA<br> Ano: 2011<br> Gênero: Aventura / Comédia<br> Roteiro: Steven Moffat, Joe Cornish e Edgar Wright<br> Elenco: Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Nick Frost, Simon Pegg, Toby Jones e Cary Elwes.<br> Diretor: Steven Spielberg<br> Distribuidor: Sony / Paramount<br>