Em 1990, o cineasta preferido dos nerds, Joel “Mamilos” Schumacher dirigiu Linha Mortal. O filme era bastante interessante, ainda que não mantivesse sua força durante toda sua duração. Ele costuma ser lembrado também como “Aquele terror estrelado pela Julia RobertsKevin Bacon e o jovem Jack Bauer“.

Estamos em 2017 e seu remake chega às telas com um novo nome em português: Além da Morte está fadado a ser conhecido como “aquele terror tosco estrelado por uma Juno que parece ter envelhecido bem mais do que deveria”.

Além da Morte, Delfos

Ele vem arrecadando mais reviews negativos do que aquele filme do Danilo Gentili (ok, talvez não tantos), e isso me surpreendeu. Poxa, eu achava o original tão legal. Tudo bem que o assisti muitos anos atrás e não tenho ideia se manteria esta opinião hoje, mas ainda assim, um remake dele poderia ser legal.

ALÉM DA MORTE

Caso você não saiba do que se trata, tanto o original quanto este são estrelados por um grupo de estudantes de medicina que decide documentar a morte. Pois é, eles vão clinicamente se matar por alguns minutos esperando que os amigos os tragam de volta. Assim, eles pretendem conseguir informações sobre este tão elusivo assunto: o que acontece quando apresuntamos?

Mesmo quase 30 anos depois do original, eu ainda acho essa temática muito boa. E pelo início do filme, até achei que este seria um dos casos em que “todo mundo falou mal, mas eu falei bem“. Infelizmente, não é o que vai acontecer. Eu também vou falar mal.

É verdade, já tinha problemas com o filme de Joel Schumacher, especialmente com o fato de ele pegar uma temática tão interessante e desperdiçar em um terror sobrenatural. No entanto, ele fez a lição de casa, e apesar de apelar para fantasmas, ainda é um filme que pode ser considerado tanto um sci fi quanto um terror.

Não é o caso deste. Além da Morte começa bem, afinal, é quando a parte médica do bagulho está em foco. Não demora, no entanto, para ele abraçar o terror sobrenatural com todas as forças, e faz isso utilizando-se única e exclusivamente de clichês.

Fantasmas aparecendo de relance, sustos com aumento de trilha sonora. Tem de tudo aqui, e da forma mais sem-vergonha possível.

ALÉM DO CINEMA

Infelizmente, não é apenas o amontoado de clichês que o torna um filme ruim. Ele é um filme ruim, tecnicamente falando. Permita-me citar uma cena na qual um dos personagens leva uma facada na mão. A cena muda imediatamente após a facada para uma conversa no restaurante com os amigos. Faltou algo aí no meio, entende?

Este problema de montagem se repete muitas vezes ao longo do longa. Este é apenas um exemplo que posso contar sem dar spoilers. Fico imaginando que deve ter ficado um monte de cenas excluídas na sala de edição, já que nenhum filme é escrito desse jeito.

É comum falarmos aqui que alguns diretores deveriam ser mais implacáveis e cortar mais cenas de seus filmes, mas a impressão que fiquei aqui é que Niels Arden Oplev foi implacável até demais, e perdeu a mão. Imagino que o mesmo aconteceu quando ele foi escolher o nome artístico. Fala sério, não parece que tem letra faltando?

Além da Morte, Delfos
A cara do elenco quando o diretor se apresentou.

Mas vá lá, às vezes o roteiro já era ruim mesmo. E isso seria ainda mais imperdoável, considerando que se trata de um remake. Ou seja, o cara já pega um trabalho fácil, que está praticamente pronto, e ainda consegue estragar?

O filme ainda conta com uma ponta de Kiefer Sutherland, e eles até jogam umas sementinhas dando a entender que ele seria o mesmo personagem do original. Claro, como tudo que está aqui, isso nunca é desenvolvido e a presença do Jack Bauer acaba resumida a um easter egg.

Seja lá o que aconteceu, Além da Morte é um remake que não passa nem perto do original. Se o longa de Joel Schumacher já não levava sua proposta fantástica às últimas consequências, este faz ainda pior, focando quase que completamente no sobrenatural, e fazendo isso de forma muito ruim.