Eu já disse isso quando falei sobre minha experiência com o mangá, mas agora vou elaborar melhor. Ainda me lembro até hoje quando assisti Akira, o animê adaptado pelo próprio Katsuhiro Otomo de sua história em quadrinhos.

Não me lembro exatamente quantos anos eu tinha. Acredito que não era tão novo assim, devia ter uns 10, 11 anos. Fui na locadora e dei de cara com ele. Eu tinha uma vaga noção do que se tratava porque a editora Globo estava publicando o mangá na época e passava até comercial na televisão. Assim, sabia que era algo violento.

Só que naquela época não havia no país a noção de que uma animação não era necessariamente feita para o público infantil. Se era desenho animado, então era para criança e pronto. Tanto que várias vezes encontrei posteriormente uma cópia de Akira na prateleira de filmes infantis de diversas locadoras.

Enfim, graças a este desconhecimento geral da época, aluguei a parada e, embora não tenha entendido absolutamente nada do enredo (me lembro do meu primo, que era mais velho e assistiu comigo, falando que era muito complexo), fiquei impressionado com o nível de violência (bem mais alto do que eu esperava) e, sobretudo, com a qualidade da animação.

EU JÁ DISSE ISSO ANTES E REPITO: TETSUOOOOOOOO!

Só anos depois, quando comecei a me interessar com mais seriedade por cinema, fui saber de sua enorme importância na popularização das animações japonesas no ocidente. Claro que já havia algumas animações nipônicas lançadas nessas terras, principalmente na televisão. Mas o sucesso de Akira foi tanto que ajudou a popularizar e abrir este mercado de vez.

Delfos, Akira, Cartaz

Caramba, até eu, que não sou chegado em animês, tendo assistido somente um pequeno punhado, sempre cito este filme como meu longa de animação favorito. Reassisti-lo hoje em dia continua um enorme prazer. É impressionante como ele não envelheceu absolutamente nada.

A trama, você bem sabe, envolve dois amigos e membros de uma gangue de motoqueiros adolescentes: Tetsuo e Kaneda. Após Tetsuo sofrer um acidente, ele é cooptado por uma agência secreta do governo que faz experimentos em crianças para ativar nelas poderes psíquicos e telecinéticos. Tetsuo acaba revelando um poder próximo ao de Akira, a mais poderosa dessas crianças, que décadas atrás serviu como estopim para uma destruição sem escalas.

O moleque acaba perdendo o controle e torna-se uma gigantesca ameaça. Cabe então a Kaneda, aliado a um grupo de rebeldes que quer expor o programa do governo, ir atrás do amigo para tentar salvá-lo ou enfrentá-lo.

Após começar a ler o mangá, sei que a história original foi bastante condensada para um filme de cerca de duas horas. Ainda assim, a trama é bem amarradinha. Ficção científica, ação e até o drama entre a amizade e a rivalidade dos amigos, são bem explorados.

Um traço do mangá que não dá muito as caras é a comédia. A HQ tem muito mais momentos humorísticos, que foram bastante suavizados na animação. Apenas o Kaneda, com sua personalidade rebelde, solta uma ou outra piadinha aqui e ali e só. Particularmente, eu gosto dessa suavizada no humor. Acho que dá um ar mais sério para uma história que pede isso.

NÃO SEI SE JÁ FALEI ISSO TAMBÉM, MAS: KANEDAAAAAAA!!

Delfos, Akira
Como é o nome desse rapaz? Tetsuooooooo!!!

A animação, que à época era supermoderna e visualmente caprichadíssima (sem dizer cara), continua lindona. Claro, as técnicas evoluíram muito de lá para cá, sobretudo as animações por computador. Mas ele ainda consegue se destacar em meio a exemplares mais atuais. E eu sempre preferi animações em estilo 2D às criadas por computação gráfica.

Os efeitos de luzes, a movimentação dos personagens, as cenas envolvendo as motos. Tudo continua bonito pra caramba. Assim como a história continua bastante envolvente.

Em suma, Akira é uma excelente animação que não só resistiu bravamente ao teste do tempo, como pareceu não senti-lo. Pelo contrário, ele apenas acrescenta mais importância a este grande clássico. Um que merece ser visto novamente, ou, caso nunca o tenha assistido, urgentemente descoberto.

E se você quiser ter a oportunidade de vê-lo na tela grande do cinema, agora é sua chance. Acontece que a rede Cinemark vai exibi-lo com exclusividade, somente nesta quarta-feira, dia 6 de setembro, com sessões às 20h40 em diversas cidades do país. Para saber em quais cidades e em quais salas ele será exibido, basta clicar aqui.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
akira-resenhaTítulo: Akira<br> País: Japão<br> Ano: 1988<br> Gênero: Ficção Científica/Animação<br> Duração: 124 minutos<br> Diretor: Katsuhiro Otomo<br> Roteiro: Katsuhiro Otomo e Izô Hashimoto<br> Elenco: Nozomu Sasaki, Mami Koyama e Mitsuo Iwata.