A protagonista Sook-hee invade um prédio cheio de capangas da máfia e, sozinha e armada basicamente com duas facas, limpa o lugar, avançando de cômodo a cômodo, eliminando todo mundo, como num videogame. A sequência é filmada em primeira pessoa e em plano-sequência. E também é a cena de abertura de A Vilã, que já mostra a que o filme veio.

Logo depois dessa impressionante abertura, a história em si começa. Sook-hee é presa e levada por uma organização misteriosa do governo, onde passa a ser treinada. O acordo é o seguinte: ela trabalha para eles por dez anos, cumprindo as missões que eles lhe passarem, e depois desse período ela fica livre para tocar sua vida.

Enquanto isso, através de flashbacks vamos vendo aos poucos cenas do passado dela, que vão montando um quebra-cabeça que nos mostram o que a fez entrar naquele prédio e porque Sook-hee já era tremendona antes de ser apanhada e obrigada a trabalhar para a tal organização. E como a maioria dos filmes sul-coreanos que se preze, a coisa gira em torno do tema da vingança.

Delfos, A Vilã, CartazA parte inicial da sinopse, com a assassina recrutada para fazer o serviço sujo de uma agência secreta do governo, é muito parecida com a trama de Nikita – Criada para Matar (1990), de Luc Besson, filme que já rendeu um remake estadunidense (A Assassina, 1993) e duas séries de televisão. A Vilã bem poderia ser mais uma refilmagem não-oficial, de tanto que a história é chupada da película do cineasta francês.

Mas deixemos este pequeno fato de lado. Afinal, quando a pancadaria começa, você releva isso numa boa. A coisa é muito, mas muito bem feita. As coreografias de luta são excelentes, os movimentos de câmera são caprichados e complexos, muitas vezes se enfiando tão no meio das brigas que parece que você está no meio delas. E claro, o sangue esguicha em profusão, no melhor estilo Kill Bill.

De fato, ele é facilmente um dos filmes de ação mais empolgantes e criativos que eu vi este ano. Toda vez que o pau come, a coisa é muito boa. Infelizmente, a história dá aquela atrapalhada básica. Não basta ela estar longe de ser original, como já estabelecemos por sua grande similaridade com Nikita, mas ela exagera no desenvolvimento da segunda linha temporal.

Não só o filme geralmente esfria quando passa para os flashbacks, como em determinado momento vira aquele tradicional rocambole de reviravoltas, uma atrás da outra, exagerando bastante nessas viradas inesperadas. Não precisava de tudo isso. Mantivesse uma linha narrativa mais simples, seria muito mais divertido e direto ao ponto.

Delfos, A VilãRelevando-se a grande quantidade de reviravoltas exageradas e os momentos mais mornos orientados pela história, A Vilã ainda resulta em um grande filme de ação, que mais que compensa seus defeitos na hora em que a violência toma conta e o sangue começa a escorrer. Para quem curte um bom filme de ação, este é um ótimo programa.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
a-vila-reviewTítulo original: Ak-Nyeo<br> País: Coreia do Sul<br> Ano: 2017<br> Gênero: Ação<br> Duração: 129 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Direção: Byung-gil Jung<br> Roteiro: Byeong-sik Jung e Byung-gil Jung<br> Elenco: Ok-bin Kim, Ha-kyun Shin e Jun Sung.